sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Uma História que tinha tudo pra ser um Sucesso!

Gia

O showbissnes é uma varinha de condão com dupla magia: feitiço que produz fama e tragédia quase na mesma medida. Uma legião de almas já escoaram pelo ralo do mainstream. Mas, das célebres vidas ceifadas por excessos, quantas partiram de verdade seu coração? Poucas histórias superam em tristeza a apressada trajetória, na vida e nas passarelas, da modelo norte-americana Gia Marie Carangi (1960-1986). A morte de Gia, vítima da Aids, da fama, do vício em heroína - e especialmente de si mesma - já tem mais de 20 anos.

Gia teve uma carreira tão curta e glamourosa e um final tão infeliz e degrandante que, na ficção, nem o óbito misteriosa da personagem Laura Palmer aproxima-se dos requintes de degradação física e moral auto-indulgidos pela modelo. Perto do hecatombe pessol de Gia, as mortes de Kurt Cobain e Sid Vicious, retardados ícones da heroinomania, são brincadeiras estúpidas de dois desacerebrados. Gia é dessas almas perdidas que gostaríamos de incluir em nossas preces diárias.
Em 1979, aos 17 anos, Gia Carangi, uma ex-caixa de lanchonete da Filadélfia, vai pra Nova York apostar na carreira de modelo. Sua ida ao topo foi veloz. Em menos de um ano, sua beleza desnuda (cuja pele, considerada perfeita, poucas vezes era preciso maquiar) ganhou as capas da Cosmopolitan, Glamour e Vogue, as mais importantes revistas de moda do mundo.
No intervalo de quatro anos, tempo que sua carreira durou, Gia representou marcas famosas, como Christian Dior, Giorgio Armani, Levi's e Yves Saint Laurent. Foi a modelo favorita dos fotógrafos Francesco Scavullo e Richard Avedon e a mais requisitada dos estilistas Gianni Versace e Diana Von Fustemberg. Em abril de 79, a carreira de Gia decolou de vez quando estrelou na capa da Vogue Paris, fotografada por Chris Von Wangenheim. Nessa sessão, conheceu Sandy Linter, que trabalhava como assistente e com a qual teve ardente (e polêmico) caso de amor dos bastidores da moda.
Nos anos 80, Gia causou rebuliço na pele da primeira mulher a desfilar com roupas masculinas e, também, por aparecer no estúdio de cara lavada vestida num velho jeans rasgado. À paisana, para ressaltar seu lesbianismo Gia vestia-se com indumentárias masculinas; por debaixo da roupa, porém, escondia-se o corpo feminino mais lindo de sua geração.
No final da década de 70, literalmente, o universo da moda ainda estava "dentro do armário". Gia foi a primeira modelo a assumir-se como homossexual. Entretanto, segundo confessou em seu diário, sua vida teria sido inteiramente diferente se, no fim das contas, gostasse de homens. Muitas pessoas que cruzaram pela vida de Gia e descreveram-na como mulher de enorme presença – a mais linda e cool da sua época. Por outro lado, sua vulnerabilidade psicológica era ainda mais notória.
A morte de sua amiga e agente, Wilhelmina Cooper, em 1980, devastou a frágil psiquê de Gia. Foi quando começou a se revolver na areia movediça da dependência química. De acordo com a biografia Thing of Beauty, de Stephen Fried, provavelmente, o fato alterou todo o curso de sua vida, "transfomando seus dias num inferno de drogas". Hoje, apreciando suas fotos é difícil perceber que mulher tão linda como Gia dissimulasse vício tão infeliz.
Os problemas enfrentados pela da top model tem gênese nos traumas de infância: ainda criança, sua mãe abandonou lar e marido. A bipolaridade extrema (nunca tratada) - oscilante entre picos de felicidade e tormentas emocionais - foi a porta de entrada da infernal trip junkie na qual, sem volta, jogou-se a modelo.
Celebridade, logo Gia virou habitué do Studio 54, club novaiorquino onde a drogadição rolava solta na fritura hedonista da era disco. Não tardou para introduzir-se na cocaína e, bem rápido, foi apresentada à heroína. Se não estava louca de coca ou herô, Carangi chapava-se de ambas as subtâncias - o speedball, combinação perigosa que fazia a cabeça de seu maior ídolo: David Bowie.
Gia teve dois importantes títulos. Um deles foi ser a primeira modelo da história a ser chamada de "super top model". Na linha cronológica do fashionismo, ela é mãe de Gisele Bündchen e madrinha de Cindy Crawford. A semelhança entre as duas era tão notável que, na estreia, Crawford recebeu o apelido de "Baby Gia". Na incipiência devastadora da Aids, Gia foi a primeira "mulher famosa" diagnosticada com o vírus nos Estados Unidos, doença contraida pelo compartilhamento de seringas.
O vício custou carreira, dinheiro e, por fim, a vida de Gia Carangi. No auge do sucesso, numa única temporada, a modelo chegou receber cachê de U$ 750 mil - cifra elevadíssima para os padrões da indústria da moda no áureos anos 80. O cachê diário de Gia, em média, era de U$ 10 mil. No fim da carreira, em 1984, não lhe sobrara um mísero tostão. Começou a prostituir-se com homens para conseguir dinheiro para as drogas. Na sarjeta, fo preciso declarar-se indigente para tratar sua doença no sistema público de saúde. No final da doença, que, em dois anos, a devastou completamente, os músculos de Gia descolaram-se inteiramente do corpo.
A carreira de Gia começou a ruir quando, durante uma sessão de fotos, as marcas de picadas foram descobertas em seus braços. Foi o fim de sua carreira. A modelo passou para a lista negra do mercado da moda. A capa da Cosmopolitan que ilustra esse post foi a última parição de Gia numa publicação especializada. O fotógrafo e amigo Francesco Scavullo teve de forçar a barra para que Cosmopolitan publicasse o ensaio de Gia na edição de abril de 1982. Note que a foto esconde os braços de Gia por trás do vestido. Essa história é retratada na premiadíssima cinebiografia da HBO Gia – Destruição e Fama, produção que salva a carreira de Angelina Jolie.

Drogas e moda são velha combinação. Antes de Gia, a musa de Andy Warhol, a modelo e socialite norte-americana Edie Sedgwick enlouqueceu até morrer abusando de remédios e de drogas psicodélicas. Sua história é contada no filme Factory Girl (2006), com Sienna Miller no papel de Edie.








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